O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não existe dentro do Banco Central uma bancada alinhada ao ex-presidente Jair Bolsonaro e outra alinhada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada na noite desta quinta-feira, o ministro fez comentários a respeito da divisão no Comitê de Política Monetária (Copom) do BC em decisão sobre os juros na véspera.
Na quarta-feira, o Copom decidiu por 5 votos a 4 cortar a taxa básica Selic em 25 pontos-base, para 10,50% ao ano, após seis cortes seguidos de 50 pontos-base. Foi justamente a divisão de votos que mais chamou a atenção: todos os cinco dirigentes que votaram por corte de 25 pontos-base já estavam no BC no governo anterior, de Bolsonaro, enquanto os quatro diretores que defenderam corte de 50 pontos-base foram indicados pela administração Lula.
Para Haddad, porém, a divergência ocorreu no campo técnico.
“Eu não concordo com esse tipo de avaliação. Até em respeito aos profissionais que estão lá, não tem uma bancada bolsonarista e uma bancada lulista no BC. Eu acredito que a questão da ‘guidance’ (orientação) tenha sido a razão da divergência”, afirmou Haddad ao jornal.
O Copom excluiu do comunicado o guidance para a próxima reunião, o que deixou o mercado sem uma referência sobre os próximos passos na política monetária.
Na entrevista, Haddad também rebateu a ideia de que a divergência entre os diretores pode suscitar dúvidas sobre a autonomia do BC, qualificando esta leitura como “superficial e ideológica”.
Mercado discorda
Nesta quinta-feira, a percepção do mercado de que o BC se tornará mais leniente com a inflação a partir de 2025, quando os dirigentes indicados pelo governo Lula formarão maioria na instituição, fez as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) com prazos mais longos dispararem. Também afetou negativamente o câmbio e a bolsa.
Mais cedo nesta quinta-feira, durante entrevista coletiva, Haddad havia dito que comentaria a decisão do Copom após a divulgação da ata da reunião, marcada para a próxima terça-feira. Ele também havia dito ver com “naturalidade” o debate técnico em torno da política monetária.
Aposentadorias
Na entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Haddad afirmou ainda que não vê “muito espaço” para que o governo discuta a desvinculação do reajuste das aposentadorias da correção do salário mínimo.
Haddad também de defendeu que sejam colocadas travas na Constituição para limitar o pagamento de auxílios que driblam o teto do funcionalismo público, hoje de 41,6 mil reais por mês.