O suposto esquema de espionagem ilegal na AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia (Abin) no governo Jair Bolsonaro atingiu membros da CPI da Pandemia.
De acordo com a PolĂcia Federal (PF), alguns servidores da Abin teriam promovido desinformação contra os trĂȘs senadores que fizeram parte da cĂșpula da comissĂŁo: o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM); o vice-presidente, Randolfe Rodrigues (S/Partido-AP); e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL).
Os parlamentares repudiaram o uso ilegal da Abin e classificaram o monitoramento como “tĂpico de governos ditatoriais”. Â
Para Randolfe, as informaçÔes divulgadas nesta quinta-feira (11) indicam que a gestĂŁo anterior montou âum aparato repressivo com a intenção de romper o Estado democrĂĄtico de direitoâ.
O fato de dirigentes da CPI da Covid terem sido monitorados traz Ă cena um carĂĄter trĂĄgico. Enquanto brasileiros morriam, o governo anterior, ao invĂ©s de se preocupar em comprar vacina, se preocupava em perseguir e monitorar os adversĂĄrios polĂticos disse.Â
Realizada em 2021, a CPI investigou omissÔes e irregularidades nas açÔes do governo do presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia de covid-19.
A comissão propÎs o indiciamento de Bolsonaro por nove crimes, além de outras 65 pessoas. Também foram monitorados o senador Alessandro Vieira (MSB-SE), que integrou a CPI; o presidente da Cùmara dos Deputados, Arthur Lira; além de ministros do Supremo Tribunal Federal, servidores e jornalistas.
Para Randolfe, o uso da Abin apontado pela PF se assemelha ao de regimes fascistas.
Ele defendeu a continuidade das investigaçÔes e afirmou que todos tĂȘm o direito ao contraditĂłrio e Ă ampla defesa, mas disse esperar que os casos comprovados sejam punidos com rigor.
A democracia esteve não apenas sob ameaça, mas o aparelho do estado foi utilizado para monitorar cidadãos e intimidar cidadãos. Estamos diante do que considero o mais grave crime contra as instituiçÔes democråticas brasileiras apontou o senador.
Por meio de sua conta em uma rede social, Renan Calheiros repudiou a perseguição de opositores do entĂŁo governo com uma “Abin paralela”:
âComo democrata, lamento e repudio que estruturas do Estado tenham sido criminosamente capturadas para atuar como polĂcias polĂticas, com mĂ©todos da Gestapo, um pantĂąno repugnante e sem fim. Sigo confiante nas instituiçÔes, na apuração, denĂșncia e julgamento dos culpadosâ, escreveu.
TambĂ©m por uma rede social, Alessandro Vieira classificou a espionagem como tĂpica de governos ditatoriais.
âA operação de hoje da PF mostra que fui vĂtima de espionagem criminosa e ataques on-line praticados por bandidos alojados no poder no governo passado. Isso Ă© tĂpico de governos ditatoriais. O Brasil segue cheio de problemas, mas ao menos do risco de volta da ditadura nos livramosâ, afirmou.
Sigilo
As informaçÔes vieram Ă luz depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirou nesta quinta-feira (11) o sigilo da mais recente fase da Operação Ăltima Milha que investiga desde 2023 o possĂvel uso ilegal de sistemas da Abin para espionar autoridades e desafetos polĂticos no governo Bolsonaro.
Os dados divulgados também envolveram o senador Flåvio Bolsonaro (PL-RJ). A Abin teria sido usada contra auditores da Receita Federal que investigaram o senador.
Em vĂdeo divulgado pelas redes sociais, o FlĂĄvio Bolsonaro criticou a divulgação de informaçÔes que, segundo ele, “nada tĂȘm a ver com a Abin”. Ele diz que foi vĂtima de criminosos que acessaram seus dados ilegalmente na Receita.Â
Eu interpus um habeas data para saber quem acessou meus dados porque a Receita Federal, no governo do presidente Jair Bolsonaro, me negou acesso.
EntĂŁo, se o presidente interferisse em alguma coisa, eu nĂŁo precisaria entrar na Justiça […] O que Ă© que eu ouvi dizer, nĂŁo tenho nem certeza que aconteceu: Ă© que foi instaurado um procedimento administrativo disciplinar contra esses criminosos da Receita e que uns dez foram punidos.Â
Nesta quinta-feira, a PolĂcia Federal cumpriu cinco mandados de prisĂŁo preventiva e sete de busca e apreensĂŁo em uma nova fase da operação.