O desarranjo fiscal do governo Lula, aliado aos frequentes ataques ao mercado financeiro e o Banco Central, criaram um cenário em que o dólar sobe em relação ao real por questões internas, a inflação sobe em decorrência disso, e monta o cenário perfeito para a necessidade de uma elevação na taxa Selic, o que deve acontecer amanhã na “Super Quarta”.
Duas pesquisas com integrantes do mercado financeiro divulgadas pela XP Investimentos e Bank of America revelam o desconforto geral com os investimentos na Bolsa brasileira.
A nova edição da pesquisa com os assessores da XP e assessores de investimento de escritórios autônomos filiados à corretora obteve a visão de 159 clientes e revelou as suas maiores preocupações.
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Segundo eles, os temores com a política fiscal cresceram para 58%, alta de 4 pontos percentuais em relação à pesquisa de agosto, e continua como o maior risco para a Bolsa. Além disso, preocupações com juros domésticos mais altos aumentaram marginalmente.
Mas o pior está no fato de que 78% deles só voltariam a investir na Bolsa com uma Selic recuando ao nível de 9% ou 8%. Outros 14% voltariam a alocar com uma Selic a 10% e um total de 7% dos assessores afirmaram que seus clientes alocariam em renda variável mesmo com uma Selic acima do nível atual de 10,5%.
Vale ressaltar que o último relatório Focus coloca o juro do Brasil a 11,25% no final de 2024, 10,5% em 2025 e 9,5% em 2026.
Esta percepção de que o retorno dos investidores locais à Bolsa irá demorar também está presente na pesquisa do Bank of America com gestores de recursos da América Latina que administram US$ 80 bilhões.
Questionados sobre em que nível de Selic voltar a investir em ações, em torno de 40% dos gestores apontaram para o patamar de 9%. Cerca de 20% retornaria com o juro a 10%. O BofA está mais pessimista do que o mercado e estima a Selic em 11,75% ao final do ano.
Lula e o efeito do dólar mais alto
Segundo um relatório do Goldman Sachs publicado nesta segunda-feira (16), observando o desempenho do Real nos últimos três meses em relação aos fundamentos, embora os rendimentos reais mais baixos dos EUA tenham enfraquecido o dólar em geral, porque os termos de troca do Brasil continuaram a se deteriorar durante este período, os desenvolvimentos globais foram apenas ligeiramente positivos para o real durante a metade do ano.
“Mesmo assim, houve períodos de desempenho claramente inferior (2ª metade de junho e 2ª metade de julho) que então reverteram para mais perto de onde os fundamentos implicariam. Isso inclui o último período de fraqueza do real, que atualmente aponta para um desempenho inferior de 3,5% em relação aos fundamentos desde o dia 20 de junho”, explica Teresa Alves, que assina o documento.
Vale lembrar que, em 18 de junho, Lula subiu o tom contra o Banco Central e disse: “Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país que para ajudar o país”.
Depois, em 20 de junho, em entrevista à rádio Verdinha, em Fortaleza, Lula lamentou que o Copom tenha interrompido os cortes da Selic e disse que quem mais perde com isso é o Brasil. “A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro, foi investir nos especuladores que ganham dinheiro com juros. Nós queremos investir na produção”, pontuou Lula, que também voltou a criticar diretamente Campos Neto.
O real em relação ao dólar se desvalorizou mais do que o esperado no 2º trimestre
Resíduo de Lula
Alves ressalta que esse “resíduo” (área cinza no gráfico) também pode refletir outros fatores específicos dos mercados emergentes que o modelo do Goldman Sachs não captura: por exemplo, o peso mexicano e colombiano também tiveram episódios de fraqueza nesses períodos.
“Ainda assim, achamos que o prêmio de risco específico do país desempenha um papel importante aqui, com investidores focados na credibilidade da política fiscal e monetária. Uma medida potencial da credibilidade da política monetária é a diferença entre as expectativas de inflação de longo prazo, que podem ser representadas por meio de taxas de equilíbrio de inflação de 5 anos a 5 anos, e a meta de inflação do Banco Central”, ressalta a economista do Goldman Sachs.
Ela pontua que as mudanças cumulativas nessa diferença desde 20 de junho, juntamente com o resíduo do modelo, mostra que o desempenho inferior do real em relação ao modelo acompanhou de perto o desvio das expectativas de inflação de longo prazo baseadas no mercado em relação à meta.
Desempenho inferior acompanhou o desvio das expectativas de inflação de longo prazo em relação à meta
Ou seja, para fechar esta lacuna de cerca de 3,5% no dólar, o Banco Central irá precisar entregar uma mensagem “hawkish” confiável em sua reunião desta semana.
“Além disso, isso deve proteger a moeda de uma deterioração maior nas notícias fiscais ou de inflação, especialmente de níveis já esticados. Dada a mudança do governador do banco central no final do ano (Gabriel Galípolo foi nomeado para assumir o lugar de Roberto Campos Neto, que havia sido nomeado pelo ex-presidente Bolsonaro), acreditamos que será importante que essa mensagem hawkish seja unânime em todos os aspectos”, ressalta Alves.
Área fiscal
Embora pensemos que uma mudança em direção a aumentos de juros pode dar suporte ao real no curto prazo, o Goldman Sachs ainda acha que para desbloquear toda a extensão do valor da moeda brasileira é necessária uma articulação clara e um compromisso com uma âncora fiscal de médio prazo.
“Aqui, as expectativas do mercado continuam apontando para um déficit fiscal primário mais amplo do que o que é alvo do governo. Além disso, gostaríamos de observar que a meta do saldo primário está perdendo significância econômica porque uma série de itens de gastos agora são classificados fora desta medida do saldo fiscal. Em última análise, achamos que uma disposição para reduzir os gastos é necessária para colocar a dinâmica da dívida em um caminho sustentável e, assim, aumentar a credibilidade da política fiscal”, conclui Alves.