Tenho notado uma conscientização cada vez maior em torno da necessidade de controlarmos melhor nossas finanças e mantermos um orçamento doméstico organizado. Fico feliz com a maior receptividade diante da educação financeira, mas ainda receio que algumas interpretações estejam erradas.
Há muita gente clamando por currículos e ementas escolares fundamentadas na educação financeira, com a adoção de disciplinas próprias (e obrigatórias) capazes de ensinar planejamento financeiro, consumo consciente, orçamento doméstico e investimentos. Um termo comum hoje em dia é sustentabilidade financeira (clique para saber do que se trata).
Impossível não fazer algumas perguntas: de quem é a responsabilidade de educar financeiramente as próximas gerações? Os responsáveis por transmitir esse conhecimento devem ser os sistemas de ensino (escolas e educadores), a família (pais) ou ambos? Como deve ser esse equilíbrio?
Cenários comuns
O que se vê com frequência são filhos de pais endividados que, quando crescem, entram no mercado de trabalho e formam suas famílias, simplesmente repetem o descaso dos pais em relação ao orçamento e vivem “pendurados”, assumindo dívidas cada vez mais altas e sem perspectiva de investimento para o futuro.
Há (poucos) casos de filhos que agem de maneira totalmente oposta aos termos da infância e adolescência, talvez traumatizados ou sensibilizados pelas agruras e angústias da família. A história de negligência financeira que durou muitos anos serve como motivação para uma guinada nessa área.
E, sim, felizmente existem os exemplos de famílias que respeitam suas finanças e fazem dela uma prioridade, transmitindo a educação financeira como um estilo de vida e, principalmente, como uma ferramenta para realização de metas e construção de liberdade. Histórias assim costumam ser duradouras quando são sinceras (leia mais sobre isso clicando aqui).
Mudanças só acontecem a partir de exemplos
As histórias descritas nos parágrafos anteriores devem ser observadas com atenção, pois denotam uma característica da educação financeira duradoura: a força do exemplo. E os exemplos só são transformadores quando surgem de maneira natural e nas pessoas que admiramos – aquelas que temos como nossos modelos de vida: nossos pais.
A escola prepara para o aprendizado, oferecendo uma importante carga social e de conhecimento formal, mas não forma o caráter. Toda mudança precisa ser vista e vivida de perto, e por isso professores e educadores não devem ser us únicos modelos para disparar no aluno o desejo de praticar a educação financeira.
Viver uma mudança de perto significa ser influenciado diretamente por ela, positiva ou negativamente. Lidar com as consequências de uma mudança e observar seus resultados (bons ou ruins) é tarefa que só se vive ao lado da família ou de gente muito próxima, especialmente quando somos crianças e jovens.
Não pense que sou contra a educação financeira na escola. Muito pelo contrário, eu acredito que ao incentivá-la, educadores farão um papel muito importante: o tabu em torno do assunto será quebrado. Educação financeira nas escolas é para dar suporte, oferecer conteúdo, mas isso não substitui nem sobrepõe a responsabilidade familiar. Se quiser ler mais sobre como conciliar dinheiro e família, clique aqui.
Saber e não fazer é o mesmo que não saber
Enquanto a escola, com seus verdadeiros heróis (os professores), nos oferece a chance de saber mais, é fazendo que realmente aprendemos. Não adianta sermos apresentados aos conceitos e caminhos de qualquer tema, se não praticarmos o suficiente para aprendermos de verdade.
Com a educação financeira, não é diferente. A pergunta do título deste texto, portanto, ganha relevância: quem são os seus exemplos quando o assunto é dinheiro? Você pode não compreender isso totalmente, mas seus pais certamente têm uma enorme influência no seu grau de aversão ao risco e no modo como cuida do dinheiro e constrói patrimônio.
Tome o exemplo do best-seller mundial “Pai Rico Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki. Ele defende a ideia de que precisamos ter um mentor, uma fonte rica de exemplos positivos ligados à educação financeira próxima o suficiente para nos guiar e oferecer caminhos melhores para buscar outros resultados financeiros. Você tem um “Pai Rico”?
Não se trata de dinheiro, mas de cidadania
É preciso entender e aceitar que envolver-se com o próprio dinheiro de maneira inteligente e proativa é uma questão de cidadania, não um diferencial competitivo ou uma qualidade capaz de torná-lo melhor que outra pessoa. E cidadania significa formação de caráter, um processo essencialmente baseado em exemplos (já falei disso também, clique aqui). Não dá para terceirizar para a escola a formação do cidadão.
Você provavelmente já assistiu uma propaganda, de 2006, que mostra crianças imitando adultos em ações aparentemente mundanas, mas chocantes. Compartilho o vídeo novamente, pois entendo que ele tem tudo a ver com dinheiro. Uma cena a mais com um pai endividado certamente faria bem ao material.
https://www.youtube.com/watch?v=7d4gmdl3zNQ
Da próxima vez que você pensar em dinheiro, tente associar sua história com os exemplos positivos ligados ao tema que você recebeu. Se foram poucos, não se desespere, busque novos mentores, envolva-se com pessoas que tratem suas finanças com respeito. Observe. Reflita. Pergunte. Pratique.