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KPMG alertou Americanas sobre falta de controle financeiro em 2019, diz sócia à CPI

As irregularidades contábeis da Americanas totalizam cerca de R$ 25 bilhões, e teriam sido realizadas ao menos desde 2016 até 2022

por Reuters
3 min leitura
Carla Bellangero

A administração da Americanas (AMER3) recebeu vários alertas sobre as deficiências contábeis da companhia e a necessidade de melhorar os controles internos, disse uma sócia da KPMG nesta terça-feira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o caso.

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A Americanas, que entrou com pedido de recuperação judicial em janeiro após revelar um escândalo contábil atualmente calculado em mais de 25 bilhões de reais, estava ciente das deficiências e rescindiu o contrato com a KPMG depois que a empresa de contabilidade enviou uma carta de controles internos, disse Carla Bellangero, sócia da KPMG no Brasil.

Um relatório de meados de junho, elaborado com base em informações de um comitê independente e de assessores da Americanas e publicado pela varejista atribuiu uma fraude a ex-executivos.

Além disso, também em junho, o depoimento à CPI do atual presidente da varejista, Leonardo Coelho, que assumiu o cargo após o início da crise, levantou dúvidas sobre a potencial participação de bancos e empresas de auditoria no caso.

Bellangero disse nesta terça-feira que a KPMG, que auditou de 2016 a 2019 as contas da B2W e da Lojas Americanas não encontrou indícios de fraude em nenhuma das empresas. Em 2021, as duas companhias se fundiram para formar a atual Americanas.

No entanto, a KPMG encontrou “deficiências” no controle de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares, disse Bellangero. Esses contratos são fechados entre varejistas e fornecedores para divulgação de determinados produtos.

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A KPMG sinalizou a necessidade de melhorias nas contas das empresas, inclusive no orçamento desses contratos de propaganda, chamados de VPCs, para os diretores financeiros da Lojas Americanas e da B2W em agosto de 2019, afirmou Bellangero.

“Como não obtivemos nenhuma resposta desse email, decidimos emitir uma carta de controles internos interinas para chamar a atenção da administração sobre a necessidade de melhorias”, acrescentou ela.

Seis dias depois, a Americanas rescindiu seu contrato com a KPMG, disse Bellangero. Na época, a B2W e a Lojas Americanas citaram “circunstâncias comerciais” como justificativa.

Procurada pela Reuters, a Americanas disse em nota que “a substituição da auditoria externa KPMG pela PWC em 2019 contou com a anuência da própria empresa de auditoria, que posteriormente manteve relação contratual com a companhia”.

As irregularidades contábeis da Americanas totalizam cerca de 25 bilhões de reais, e teriam sido realizadas ao menos desde 2016 até 2022 e envolvido dezenas de funcionários, com falsificação de contratos de VPCs e contabilização inadequada de transações com bancos, conforme informações divulgadas pela própria empresa e por Coelho.

Fabio Cajazeira Mendes, líder de auditoria da PwC, empresa que auditava os balanços da Americanas desde 2019 até este ano, disse que tal fraude, se comprovada, teria sido sofisticada e com conluio de ex-diretores.

Em casos como esse, disse ele, “há, infelizmente, a possibilidade de que essa fraude não seja detectada”.

Essa foi a primeira vez que representantes de empresas que prestaram serviços de auditoria para Americanas deram declarações com detalhes sobre o caso, à medida que até então as companhias haviam se posicionado de modo mais tímido alegando necessidade de sigilo das informações.

Bellangero e Mendes ainda alegaram que foram tiradas de contexto comunicações entre as auditorias e executivos da Americanas, divulgadas por Coelho em junho à CPI e que apontavam para suposta modificação da redação de documentos contábeis após pedidos da varejista.

Em sua nota, a Americanas reafirmou ainda em relação aos indícios apresentados por Coelho à CPI sobre mudança, pela KPMG, da Carta de Controles Internos, “que tal alteração foi realizada para reclassificar a VPC de ‘recomendações que merecem atenção da Administração’, para ‘Outras Recomendações’, fazendo com que tal item deixasse de ser considerado como deficiência significativa”.

A Americanas reiterou também que “o relatório apresentado à CPI é preliminar e foi entregue às autoridades competentes, que realizam suas próprias investigações”.

O ex-presidente da Americanas Miguel Gutierrez, que deixou a empresa no final de 2022, também deveria depor nesta terça-feira, mas alegou problemas de saúde. Procurado, o empresário não se posicionou.

Fábio Abrate, ex-executivo da companhia e ex-diretor de relações com investidores da B2W, compareceu ao depoimento, mas se recusou a responder aos parlamentares.

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