Se existe algo em que os economistas concordam no Brasil, é que o COPOM aumentará a taxa básica de juros hoje. Discute-se muito a necessidade e a magnitude do aumento (0,25%, 0,5% ou 0,75%?), mas sua mudança é dada como certa.
Como você já sabe, o grande responsável pelo aumento é o perigo inflacionário, muito mais perigoso e ardiloso do que se supunha até pouco tempo.
Hoje foi divulgado o Índice de Preços ao consumidor (IPC), mantido pela Fipe, que sofreu forte elevação no mês de maio, saltando de 0,54% em abril para 1,23% no mês passado. É a maior variação do índice desde fevereiro de 2003, quando o indicador chegou a 1,61%. Naquele tempo, o fantasma inflacionário pegava carona na forte pressão do dólar frente ao real.
Os alimentos no centro da questão
O grupo alimentação puxou a corda inflacionária, chegando a acelerar 3,17% em maio. Dentro do grupo, destacam-se as altas de 22,16% do arroz, 4,61% da carne bovina, 5,08% do leite longa vida e 4,15% do pão francês. Já temendo perder o controle e as rédeas da situação, o governo, mesmo que timidamente, começa a dar alguns sinais de que percebe o quanto o problema é critico.
Dessa forma, na última semana foi anunciado um esforço fiscal adicional de 0,5% do Produto Interno Produto (PIB) como meta de superávit primário – termo usado pelos economistas para definir o dinheiro que um governo economiza para pagar os juros de sua dívida.
De acordo com a proposta, o excedente irá para o Fundo Soberano Nacional, que servirá justamente para retirar o dinheiro de circulação na economia, a fim de conter a demanda e reduzir a necessidade de aumentos de juros por parte do Banco Central. Deixemos o assunto Fundo Soberano para um novo artigo, já que sua necessidade é bastante questionada.
Copom baterá o martelo
A reunião do Copom será significativa, pois ditará a intensidade do processo de alta dos juros iniciada na última reunião. Confira no gráfico, criado pelo Banco Central, a evolução da Taxa Selic de 2005 até a última reunião, realizada no dia 16/04/2008:
Em linhas gerais, a taxa Selic é a média de juros que o governo brasileiro paga por empréstimos tomados dos bancos. A idéia é, através do aumento da taxa, tornar mais caro o crédito que os bancos oferecem aos consumidores – já que com Selic maior fica mais interessante aos bancos emprestar dinheiro ao governo.
A medida, obviamente, visa diminuir a atividade econômica do país, mas ao mesmo tempo alimenta o aumento da dívida pública, calcanhar de Aquiles do atual momento econômico do Brasil. A idéia é conter a escalada dos preços diminuindo o apetite dos consumidores.
Fique alerta e aproveite as oportunidades
Com o provável aumento da taxa Selic outras taxas de juros usadas no país, como a do cheque especial, crediário e cartões de crédito também tendem a subir. Portanto, muita atenção, pois, mais do que nunca, é hora de fugir das dívidas.
Em contrapartida, existem algumas possibilidades de alavancar os ganhos com alguns investimentos. Pois é, o aumento da Selic significa mais gás para a chamada renda fixa, com os populares CDBs por exemplo. Atenção especial também diante do Tesouro Direto, que se beneficia diretamente da alta da Selic. Até sexta-feira.
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Ricardo Pereira é Analista Financeiro Sênior da ABET Corretora de Seguros, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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