O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta sexta-feira que as expectativas de inflação implícitas nas operações do mercado mostraram uma pequena melhora, mas reiterou que, com as variáveis conhecidas hoje, a avaliação é de que o ritmo de corte de 0,50 ponto percentual da Selic segue sendo apropriado.
“Entendemos que o ritmo de 50 (pontos-base) é o adequado”, afirmou Campos Neto, acrescentando que ainda é necessário que os juros permaneçam no campo restritivo. “Com as variáveis de hoje, o ritmo de 50 (de corte da Selic) é apropriado para as próximas reuniões”, reiterou.
A taxa básica Selic está atualmente em 12,25% ao ano. Em suas comunicações oficiais, o BC tem reforçado a perspectiva de que sejam promovidos mais cortes de 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões o que abarcaria pelo menos dezembro e janeiro.
Na curva de juros brasileira, a precificação majoritária é justamente de pelo menos mais dois cortes de meio ponto percentual. Entre os investidores e os analistas, no entanto, a dúvida é sobre qual será a taxa Selic no fim do atual ciclo de cortes.
Falando em evento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) em São Paulo, a pouco mais de dez dias da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deste ano, em 12 e 13 de dezembro, Campos Neto disse que a expectativa é de que a taxa terminal do ciclo de cortes siga em patamar restritivo.
Em evento na tarde de quinta-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, também citou um cenário “mais benigno” para a inflação. Em função disso, segundo ele, há maior pressão do mercado para aceleração dos cortes de juros no Brasil. Ainda assim, Galípolo enfatizou a postura de cautela do BC diante das incertezas.
Autonomia
Durante o evento na Febraban, Campos Neto também destacou a importância da autonomia do BC, ainda que tenha reconhecido, de forma indireta, haver “ruídos” na relação com o governo.
“Tem, obviamente, um atrito, um ruído natural, de se acostumar a trabalhar nesta forma”, comentou, acrescentando que o primeiro teste da autonomia ocorre quando há mudança de governo.
Escolhido para o cargo de presidente do BC durante o governo de Jair Bolsonaro, Campos Neto tem mandato assegurado até o fim do próximo ano, em função da autonomia da instituição aprovada pelo Congresso Nacional.
Somente a partir disso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá indicar um substituto.
“O processo de autonomia colocou o BC no ambiente internacional em outro patamar”, disse Campos Neto.
Parcelado sem juros
Campos Neto afirmou ainda, para uma plateia com representantes de instituições financeiras, que a importância do parcelado sem juros cresceu muito no Brasil e, neste contexto, o BC tem tentando chamar todos os grupos envolvidos com o produto para conversar.
Em evento recente, Campos Neto alertou que existe a possibilidade de que os juros do crédito direto ao consumidor (CDC) estejam aumentando por conta do crescimento do parcelado sem juros. Isso ocorreria para compensar a inadimplência no parcelado.