Thiago comenta: “Navarro, estou pesquisando sobre investimentos e uma opção chamou minha atenção. O Tesouro Direto, ou seja, a compra de títulos públicos, é uma boa opção? A queda nos juros (Selic) impacta bastante a rentabilidade dos títulos, certo? Ainda assim, vale a pena investir pensando na segurança? Será que pode explicar as recentes mudanças feitas nessa modalidade? Obrigado”.
Segurança é uma palavra muito importante no vocabulário do investidor inteligente. Muito embora a visão romântica dos investidores mostre-os sendo agressivos, fazendo negociações frenéticas através de computadores e sentados ao lado de dúzias de monitores, é fato que boa parte dos recursos destes participantes do mercado financeiro está seguro (em aplicações conservadoras como o Tesouro Direto).
Investir, portanto, não é sinônimo de arriscar. Investir é, antes de tudo, uma decisão inteligente e que precisa ser tomada levando-se em conta o patrimônio do investidor, seu grau de aversão ao risco, perfil (idade, estilo de vida e conhecimento de finanças e mercado) e seu tempo disponível. Investir, na minha concepção, é construir e usufruir da liberdade.
Escrevi esses dois parágrafos porque muita gente (especialmente os mais jovens) insiste em conhecer todos os detalhes das aplicações arriscadas para, então, direcionar quase que a totalidade de seus recursos para esses investimentos. Tal decisão é ingênua e não leva em conta a volatilidade e o risco. Conheço muitos jovens que perderam tudo, inclusive a arrogância de se considerarem “super investidores”.
Principais dúvidas dos leitores
A renda fixa, portanto, existe para servir de “colchão de segurança”. Neste sentido, a maior parte das dúvidas que tenho recebido diz respeito ao Tesouro Direto, e aproveitarei este texto para tentar respondê-las de forma didática e objetiva. Vamos lá?
O Tesouro Direto é interessante?
Sim, sem dúvida é uma aplicação muito atraente para o investidor que deseja aproveitar movimentos nas taxas de juros – ele pode elevar seus ganhos quando há tendência de alta (compra de pós-fixados) e também no inverso (compra de pré-fixados) – e também para quem deseja proteger seus investimentos no médio e longo prazo.
A compra de títulos como a NTN-B, por exemplo, que é indexada à inflação, garante o pagamento de juros atrelados à alta dos preços, o que permite ao investidor a certeza de que seu poder de compra será protegido durante o período em que o dinheiro estiver aplicado. É importante frisar que para que essa alternativa seja plenamente aproveitada, o investidor deve manter-se com os títulos comprados até sua data de vencimento.
Quais foram as mudanças apresentadas em junho deste ano?
De uma forma geral, pode-se dizer que há uma tentativa do governo de tornar a compra e venda de títulos públicos uma oportunidade mais acessível e simples para o pequeno poupador. As mudanças dão conta disso, confira:
- Agora há a possibilidade de agendar a compra e a venda dos títulos. A venda poderá ser agendada para qualquer dia da semana (ainda que a operação só seja confirmada nos leilões semanais ocorridos às quartas-feiras). Essa mudança visa, claramente, transformar a aplicação programada em uma forma de construir patrimônio para o futuro (aposentadoria, por exemplo);
- Os cupons de juros pagos em alguns títulos e o valor final a ser resgatado na data do vencimento poderão ser reaplicados de forma automática, bastando para isso uma ordem do investidor (tudo via sistema online);
- O valor mínimo da aplicação caiu de 20% para 10% de uma unidade de título. Com R$ 70,00 já é possível começar a investir no Tesouro Direto. Se o investidor optar pela compra agendada, o percentual mínimo cai para 1% do valor de um título ou o mínimo de R$ 30,00.
Devo escolher títulos com cupom semestral?
Depende do seu objetivo ao realizar o investimento e decidir pode ser mais simples do que imagina. Se você precisará de dinheiro ao longo do ano (curto prazo) a partir da escolha do Tesouro Direto, a opção com cupons é interessante porque ele vai distribuir os ganhos a cada pagamento e na data de vencimento.
Se o objetivo for investir uma quantia para o médio ou longo prazo, os títulos sem cupons são mais práticos porque você simplesmente não terá que se preocupar com os cupons e seu reinvestimento. A rentabilidade, neste caso, será contabilizada apenas na data do vencimento ou na data de uma eventual venda do título.
Que atenção devo ter em relação aos custos envolvidos no Tesouro Direto?
São três as taxas envolvidas na negociação de títulos públicos, segundo informações publicadas no FAQ do próprio site do Tesouro Direto:
- No momento da compra do título, é cobrada uma taxa de negociação de 0,10% sobre o valor da operação. No segmento de aplicações agendadas há uma redução na taxa de negociação cobrada. Para o caso das compras programadas, a taxa de negociação cai de 0,1% para 0,05% a partir da terceira compra realizada em cada agendamento. Por sua vez, a opção de reinvestimento automático do vencimento do título ou do cupom semestral de juros garante total isenção dessa taxa de negociação;
- Há também uma taxa de custódia da BM&F BOVESPA de 0,30% ao ano sobre o valor dos títulos, referente aos serviços de guarda dos títulos e às informações e movimentações dos saldos, que é cobrada semestralmente, no primeiro dia útil de janeiro ou de julho, ou na ocorrência de um evento de custódia (pagamento de juros, venda ou vencimento do título), o que ocorrer primeiro;
- Os agentes de custódia também cobram taxas de administração (serviços) livremente acordadas com os investidores. As taxas cobradas pelas instituições estão disponíveis aqui (basta clicar). Atente para o fato de que existem corretoras que não cobram essa taxa (você vai entender dois parágrafos abaixo).
Por que não consigo investir no Tesouro Direto através do meu banco?
Com a palavra André Proite, gerente de relacionamento institucional do Tesouro: “Muitos bancos não se interessam ou até criam entraves à aplicação. O motivo é que os papéis públicos competem com outros produtos mais rentáveis para eles, como os títulos de capitalização”.
É verdade que algumas corretoras não cobram taxa de administração?
Sim, é fato. A explicação está no relacionamento com os clientes, que muitas vezes optam por investir mais em renda fixa (Tesouro Direto) quando o mercado de ações apresenta-se sem tendência definida ou com a volatilidade muito elevada. Assim, ao estimular a diversificação dos investimentos de seu cliente sem forçá-lo a buscar um lugar mais em conta, a corretora mantém o cliente.
De maneira geral, o investimento em títulos públicos segue sendo uma ótima oportunidade para investidores conservadores e para a parcela do patrimônio que deve ser resguardada contra aventuras no caso de aplicadores mais agressivos.
Escolher entre as tantas opções de títulos pode ser uma tarefa difícil, é verdade. Tentarei resumir: se você quer saber logo na compra quanto vai receber, escolha a LTN (prefixada); se você quer acompanhar o movimento da Selic, fique com a LFT; se sua decisão for pela manutenção do poder de compra (vencer a inflação), escolha a NTN-B ou NTN Principal (mas não se desfaça desses papéis antes da data de vencimento).
Você pode ir mais a fundo no artigo “Tesouro Direto: como investir, rentabilidade, vantagens e características”, no completíssimo (mas um pouco confuso) site do Tesouro Direto: www.tesourodireto.gov.br e no guia de 15 respostas essenciais sobre Tesouro Direto do Portal Exame (clique aqui).
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