A Reconnect Happiness at Work & Human Sustainability, com o suporte da 4 Day Week Global, conduziu um estudo piloto inédito sobre a semana de quatro dias no Brasil, que envolveu 19 empresas e 252 colaboradores. Implementado entre janeiro e junho de 2024, o piloto adotou o modelo “100-80-100”, onde os trabalhadores mantêm 100% do salário, trabalham 80% da carga horária, e entregam 100% da produtividade. O objetivo foi medir o impacto da redução de horas trabalhadas na produtividade, no bem-estar e na saúde dos colaboradores.
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Os dados, divulgados em agosto, revelam que a semana reduzida trouxe significativos benefícios para a produtividade e o engajamento. O nível de produtividade dos colaboradores foi avaliado em 8,4 (em uma escala de 1 a 10), enquanto o engajamento obteve nota média de 8,5. Esses números indicam que a menor carga horária não comprometeu a eficiência; pelo contrário, ajudou a intensificar o foco e a dedicação no trabalho.
Os colaboradores também relataram um aumento no bem-estar e na satisfação com o trabalho. Segundo o estudo, a média de horas de sono aumentou de 6,7 para 7 horas por noite, o que reflete uma melhoria na qualidade do descanso. Além disso, 43,6% dos participantes passaram a praticar atividades físicas mais de três vezes por semana, e 42% relataram dormir mais de oito horas por noite. Isso sugere que o tempo adicional fora do trabalho contribuiu para hábitos mais saudáveis.
Debate cresce no Brasil
Embora não tenha ainda conseguido assinaturas suficientes para iniciar a sua tramitação, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) que prevê o fim da escala 6×1 (seis dias de trabalho, um de descanso) já repercute entre os seus pares na Câmara dos Deputados.
A proposta nasceu após um desabafo de um tiktoker em um post nas redes sociais que foi eleito vereador pelo Rio de Janeiro justamente pregando o fim da jornada de 6×1. Rick Azevedo obteve mais de 29 mil votos, e o movimento criado por ele, o VAT (Movimento Vida Além do Trabalho), já conta com quase 1,5 milhão de assinaturas.
A ideia foi encampada pela deputada Erika Hilton, que agora busca a assinatura de 171, dos 513 deputados federais, para ser protocolada e inicie a sua tramitação. Após seis meses, ela conseguiu cerca de 90, muitas dessas assinaturas conquistadas nos últimos dias após a repercussão nas redes sociais que o assunto tomou.
Saúde mental
O relatório da 4 Day Week aponta uma redução significativa de fatores que prejudicam o bem-estar mental. Em comparação com o período pré-piloto, houve uma diminuição de 72,8% na exaustão frequente e de 49,6% nos problemas de insônia. Além disso, o nível de estresse no ambiente de trabalho caiu 14,5%, e a ansiedade semanal diminuiu em 30,5%.
Entre os líderes das empresas participantes, 84,6% consideraram que a experiência com a semana de quatro dias foi positiva, destacando melhorias na qualidade de vida dos funcionários, no ambiente de trabalho e no compromisso com a empresa. O comprometimento dos colaboradores com suas funções foi classificado em 9,2, refletindo um alto nível de lealdade e engajamento.
Do ponto de vista organizacional, 83,3% das empresas notaram melhorias nos processos internos, e 75% apontaram otimização no funcionamento das equipes. Além disso, 66% das empresas relataram que seus clientes aceitaram bem o novo formato, e 63,6% destacaram um aumento na visibilidade da marca, o que sugere que a inovação no modelo de trabalho impactou positivamente a imagem das empresas.
Nova sexta-feira
Apesar dos resultados positivos, algumas empresas enfrentaram desafios. A adaptação ao novo modelo exigiu uma reorganização das tarefas e ajustes nas áreas que necessitam de cobertura contínua, como atendimento ao cliente. Algumas organizações precisaram de contratações adicionais para suprir a demanda e manter a eficiência, enquanto outras implementaram escalas diferenciadas para garantir que as responsabilidades fossem cobertas adequadamente.
Outro desafio foi a manutenção da produtividade ao longo da semana, especialmente nas quintas-feiras, que passaram a ser vistas como a “nova sexta-feira” em empresas que adotaram a folga na sexta. A resistência inicial à mudança também foi registrada em alguns casos, especialmente por gestores preocupados com a produtividade e com a carga de trabalho redistribuída nos dias úteis restantes.
“Por vezes tem-se a sensação de que a usual redução da produtividade na sexta-feira (que faz com que algumas empresas adotem a ‘short Friday’) acaba sendo transportada para a quinta”, mostra o relatório.
Perspectivas
Com base nos resultados do piloto, 46,2% das empresas participantes decidiram manter a semana de quatro dias permanentemente, enquanto 38,5% optaram por estender o piloto para uma análise mais aprofundada. A 4 Day Week Brazil planeja expandir o estudo para outras empresas interessadas em adotar o modelo, com o próximo piloto previsto para 2025.
Em resumo, a experiência brasileira com a semana de quatro dias aponta para uma potencial transformação na forma de trabalho. Os resultados iniciais indicam que o modelo pode contribuir para um ambiente de trabalho mais produtivo e equilibrado, com benefícios substanciais tanto para empresas quanto para colaboradores.
Veja o resultado da pesquisa no Brasil
(Com Estadão Conteúdo)