Não adianta, a grande dúvida dos leitores e clientes continua a ser objetiva e provocante: “Equipe Dinheirama, qual o melhor investimento hoje em dia?” é lugar comum nos muitos e-mails que recebemos e nos papos de escritório e bar. Abordei a questão de forma preliminar no artigo “Existe mesmo o melhor investimento?”, em abril de 2007, onde alertei para a importante relação entre risco e retorno. Volto ao tema com uma abordagem mais explícita, talvez capaz de suscitar-lhe alguma reflexão.
Vamos começar com um pequeno teste. Suponha que você tenha R$ 15 mil para investir, neste momento, e precisa escolher entre uma das alternativas abaixo, sem poder usar o montante para consumir (gastar) ou diversificar. Você precisa escolher entre:
- Caderneta de poupança: rentabilidade de 6,5% ao ano, isenta de taxas e de Imposto de Renda. A rentabilidade sobre o valor aplicado só ocorre nas datas de aniversário da poupança, conforme explico no artigo “Poupança faz aniversário? Como assim?”;
- Títulos Públicos com vencimento em abril de 2014: NTN-F, rentabilidade média de 11,2%, com taxa de negociação de 0,10% sobre o valor da operação, taxa de custódia da BM&F Bovespa de 0,30% ao ano sobre o valor dos títulos e taxa do agente de custódia (clique aqui para baixar um ranking das taxas). O Imposto de Renda incide sobre os rendimentos e varia de acordo com o período aplicado, sendo de 22,5% para aplicações com até 180 dias, 20% de 181 a 360 dias, 17,5% de 361 a 720 dias e 15% acima de 720 dias;
- Fundo de ações de empresas que pagam dividendos: rentabilidade média de 30% ao ano, considerando últimos cinco anos com cobrança de 15% de Imposto de Renda sobre os ganhos no momento do resgate.
Observe novamente as alternativas e pense! Você tem R$ 15 mil para investir e precisa escolher uma das opções acima. Qual a sua decisão? O que você levou em conta para decidir? Por que escolheu tal alternativa? Já fiz esta “brincadeira” inúmeras vezes e os resultados foram bem interessantes. Repare no que posso resumir sobre o teste e avalie sua opção:
1) O investidor “trava”! Alguns participantes simplesmente travam ao ter que pensar na proposta apresentada. “Eu, R$ 15 mil, ah, ahn, não sei o que fazer com esse dinheiro”. Fica implícita a própria dúvida em relação ao poder de atingir tal soma e o que fazer quando (e se) este dia chegar. Pois, prepare-se, porque pode surgir uma herança, um bônus no trabalho ou coisa semelhante. E ai?
2) O investidor escolhe a caderneta de poupança porque as demais alternativas parecem muito complexas. Muitos simplesmente não conhecem o Tesouro Direto ou as alternativas de investimento em ações através de fundos. Além disso, na caderneta de poupança o dinheiro estará mais acessível, o que possibilita que o dinheiro quase não seja encarado como investimento. Muitos optam por esta alternativa para usar a poupança como conta corrente. Em pouco tempo, o dinheiro desaparece;
3) O investidor observa apenas a rentabilidade, escolhendo o fundo de ações sem pestanejar. O histórico de retorno é considerado como algo quase certo, sem que a dose de risco ou volatilidade seja considerada de forma sensata. Não raro, ao notar seu dinheiro oscilando de forma acentuada, este tipo decide sair na hora errada (muito cedo ou em uma queda) e perde dinheiro;
4) O investidor primeiro define sua prioridade e analisa as alternativas do ponto de vista de risco, retorno e tempo de aplicação. Comprar um imóvel, trocar de carro, formar capital para a aposentadoria, investir em um negócio próprio, o investidor sabe o que quer. Define a prioridade, o prazo e só então vai avaliar as possibilidades e fazer contas. Inteligência financeira colocada em prática significa investir com objetivos definidos e respeitar o prazo e as características do produto escolhido. Este tipo consegue realizar seus sonhos e chega lá, ainda que demore um pouco.
As reações ao exercício são indicativos de momentos financeiros distintos e que merecem discussão. Torço para que todo este esforço faça sentido e sirva para elucidar a questão do “melhor” investimento. Apenas torço, porque sei que a questão é abrangente e perfeita para abordagens do tipo “use tal estratégia e vença” ou “prefira os produtos assim porque são menos arriscados”. O que você realmente quer e onde quer chegar? Muita gente opina, só nós temos a resposta, mas pouco fazemos para colocá-la em prática.
Logo, o problema não é o tal “melhor” investimento, mas apenas investir em propósitos claros e bem definidos. “Porque nunca temos tempo para estudar as alternativas”, “Porque a hora certa para começar a poupar ainda vai chegar” e “Porque com o atual salário fica impossível pensar em investir alguma coisa” são as desculpas mais comuns. A dura realidade mostra que falta compromisso com o que realmente importa. Nisso, perdemos tempo querendo saber o que há de melhor no mercado enquanto sequer conseguimos fazer sobrar algum dinheiro.
Crédito da foto para freedigitalphotos.net.