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Não se engane, a culpa da Selic mais alta é de Lula

Ataques do presidente contra o BC e Campos Neto elevaram o dólar e as expectativas de inflação, reforçando a necessidade de um ajuste na Selic

por Gustavo Kahil
3 min leitura
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de Formatura do Instituto Rio Branco, no Palácio do Itamaraty

A verborragia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o BC no mês de junho e julho, que assustou os investidores internacionais e locais, fez com que o dólar (USDBRL) tivesse uma alta residual- não relacionada aos fatores externos – que foi justamente a necessária para que a projeção de inflação subisse acima do nível aceitável. E tudo isso fará com que o Banco Central eleve a Selic nesta quarta-feira (18), enquanto o Federal Reserve (Fed) fará um corte em suas taxas.

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O dólar foi subindo aceleradamente contra o real, chegando ao nível de R$ 5,67 no começo de julho, mas passando de R$ 5,75 no início de agosto. Em 7 de junho, a projeção para o IPCA de 2025 estava em 3,78%, em julho estava em 3,88% e 3,98% no início de agosto. Já para a inflação em 2024, as expectativas subiram de 3,90% no início de junho para 4,02% em julho e 4,12% no começo de agosto. A última leitura do Focus para 2024 estava em 4,35% e, para 2025, em 3,95%.

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Segundo um relatório do Goldman Sachs publicado nesta segunda-feira (16), observando o desempenho do Real nos últimos três meses em relação aos fundamentos, embora os rendimentos reais mais baixos dos EUA tenham enfraquecido o dólar em geral, porque os termos de troca do Brasil continuaram a se deteriorar durante este período, os desenvolvimentos globais foram apenas ligeiramente positivos para o real durante a metade do ano.

“Mesmo assim, houve períodos de desempenho claramente inferior (2ª metade de junho e 2ª metade de julho) que então reverteram para mais perto de onde os fundamentos implicariam. Isso inclui o último período de fraqueza do real, que atualmente aponta para um desempenho inferior de 3,5% em relação aos fundamentos desde o dia 20 de junho”, explica Teresa Alves, que assina o documento.

Vale lembrar que, em 18 de junho, Lula subiu o tom contra o Banco Central e disse: “Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil nesse instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país que para ajudar o país”.

Depois, em 20 de junho, em entrevista à rádio Verdinha, em Fortaleza, Lula lamentou que o Copom tenha interrompido os cortes da Selic e disse que quem mais perde com isso é o Brasil. “A decisão do Banco Central foi investir no mercado financeiro, foi investir nos especuladores que ganham dinheiro com juros. Nós queremos investir na produção”, pontuou Lula, que também voltou a criticar diretamente Campos Neto.

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O real em relação ao dólar se desvalorizou mais do que o esperado no 2º trimestre

Gráfico dólar 816
(Fontes: Bloomberg, Goldman Sachs Global Investment Research)

Resíduo de Lula

Alves ressalta que esse “resíduo” (área cinza no gráfico) também pode refletir outros fatores específicos dos mercados emergentes que o modelo do Goldman Sachs não captura: por exemplo, o peso mexicano e colombiano também tiveram episódios de fraqueza nesses períodos.

“Ainda assim, achamos que o prêmio de risco específico do país desempenha um papel importante aqui, com investidores focados na credibilidade da política fiscal e monetária. Uma medida potencial da credibilidade da política monetária é a diferença entre as expectativas de inflação de longo prazo, que podem ser representadas por meio de taxas de equilíbrio de inflação de 5 anos a 5 anos, e a meta de inflação do Banco Central”, ressalta a economista do Goldman Sachs.

Ela pontua que as mudanças cumulativas nessa diferença desde 20 de junho, juntamente com o resíduo do modelo, mostra que o desempenho inferior do real em relação ao modelo acompanhou de perto o desvio das expectativas de inflação de longo prazo baseadas no mercado em relação à meta.

O desempenho inferior acompanhou de perto o desvio das expectativas de inflação de longo prazo em relação à meta

Gráfico 400
(Fonte: Bloomberg, Haver Analytics, Goldman Sachs Global Investment Research)

Ou seja, para fechar esta lacuna de cerca de 3,5% no dólar, o Banco Central irá precisar entregar uma mensagem “hawkish” confiável em sua reunião desta semana.

“Além disso, isso deve proteger a moeda de uma deterioração maior nas notícias fiscais ou de inflação, especialmente de níveis já esticados. Dada a mudança do governador do banco central no final do ano (Gabriel Galípolo foi nomeado para assumir o lugar de Roberto Campos Neto, que havia sido nomeado pelo ex-presidente Bolsonaro), acreditamos que será importante que essa mensagem hawkish seja unânime em todos os aspectos”, ressalta Alves.

Área fiscal

Embora pensemos que uma mudança em direção a aumentos de juros pode dar suporte ao real no curto prazo, o Goldman Sachs ainda acha que para desbloquear toda a extensão do valor da moeda brasileira é necessária uma articulação clara e um compromisso com uma âncora fiscal de médio prazo.

“Aqui, as expectativas do mercado continuam apontando para um déficit fiscal primário mais amplo do que o que é alvo do governo. Além disso, gostaríamos de observar que a meta do saldo primário está perdendo significância econômica porque uma série de itens de gastos agora são classificados fora desta medida do saldo fiscal. Em última análise, achamos que uma disposição para reduzir os gastos é necessária para colocar a dinâmica da dívida em um caminho sustentável e, assim, aumentar a credibilidade da política fiscal”, conclui Alves.

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