Ok, você está de carro novo! Um lindo modelo zero km, com ar condicionado, direção hidráulica, freios ABS, air bags, toca CD e MP3. Ah, que felicidade! Mas saiba que tem gente ainda mais feliz com a compra que você fez: o vendedor! Eu sei que ele depende das vendas e das comissões para comer, vestir, pagar as contas, a cervejinha do final de semana. Claro, não sou contra nada disso, mas o mundo do comércio tem algumas práticas que simplesmente não dá para concordar!
Pelo menos a imprensa, que de santa também não tem nada, tem alguns arroubos de imparcialidade e, algumas poucas vezes, põe as cartas na mesa! Foi o que fez o jornal O Estado de São Paulo, mais conhecido como Estadão, no último domingo, com a matéria “Bancos pagam bônus para lojistas vender a crediário”. Sabe o que isso significa? Que está ficando difícil conseguir desconto nas compras à vista. Não é vantagem nenhuma para o comerciante nem para o comerciário.
As concessionárias e seus funcionários estão recebendo entre 6% e, pasmem, 20% de comissões nas vendas de carros a prazo! Incrível não? O próprio Estadão denuncia:
“O bônus não é ilegal – se registrado na contabilidade dos envolvidos – , mas facilita ações predatórias de instituições e lojas que empurram planos que amarram o cliente por longo prazo, além do repasse de despesas para o consumidor”
Assim fica difícil comprar à vista com desconto. Quase impossível. Logo, eles vão fazer de tudo para você compra à prazo! Cuidado. Já imaginou quando a gente, que acredita no Navarro, no Dinheirama e economiza anos para comprar o carro dos sonhos à vista, chega na loja, chora um oceano para ter um descontinho e o vendedor não cede um centavo? O espertinho não vai querer dar um desconto, diminuir a comissão da venda do carro e perder a comissão da financeira! A cara de pau vai mais longe:
“Tem vendedor que abusa e chega a cobrar duas Taxas de Abertura de Crédito, a TAC, uma embutida nas prestações e, outra, à vista, conta uma fonte que não quis se identificar ao jornal”
Pura má fé! Tunga! Safadeza!
Mas toda moeda tem dois lados. Se tem alguém que dá crédito desse jeito, tem gente tomando crédito sem pensar. O assessor econômico da Serasa, Carlos Henrique de Sousa Almeida, disse em recente matéria do Infomoney que:
“Os prazos se estenderam, mas muitas pessoas não conseguem gerenciar todo esse prazo. Quem compra um carro em 99 meses, por exemplo, precisa ser muito disciplinado, porque essa compra significa que esse consumidor terá que segurar seus gastos por oito anos, ou seja, oito dias das mães, oito natais, oito dias dos namorados e isso não é fácil”
Aliás, comprar carro em 99 prestações é algo que não entra na minha cabeça! São mais de oito anos pagando por um bem que desvaloriza no primeiro segundo fora da concessionária, que sofre desgaste e gera muita despesa com impostos, seguro, manutenção e etc. O Dinheirama inclusive já abordou o tema em outra ocasião.
Qual o fim da história?
Essas coisas me fazem pensar se o Brasil está fazendo as escolhas certas. Não há dúvidas de que o país vem crescendo, mas é muito crédito numa cultura de muito endividamento. No curto prazo, o resultado são os abusos como os denunciados pelo Estadão. Para o longo prazo há quem alerte para os “subprimes” da vida!
Preste mais atenção aos detalhes das compras que anda fazendo, acostume-se a questionar mais. Em suma, dê mais valor ao seu dinheiro. Para o assessor do Serasa, a saída passa pela educação financeira nas escolas. Eu já acredito que a escola deve ser auxiliar da família, ao invés de complementar ou razão principal do ensino financeiro. Não há professor capaz de fazer um filho de perdulários virar um bom poupador! A realidade, infelizmente, é mais dura e complicada.
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Lúcio Costi Ribeiro é gaúcho, jornalista e mora em Brasília, além de adorar a cidade! Começou a estudar finanças para cuidar do próprio bolso, gostou e resolver escrever sobre dinheiro. Já fez boletins enviados para mais de 2 mil rádios do país e agora escreve sobre como a imprensa trata o pequeno investidor. Ah, tem fama de pão-duro, mas jura que apenas gasta menos que os outros.
Crédito da foto para Marcio Eugenio.