O ano de 2012 fechou com a menor taxa de juros já vista no país, segundo números apurados pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade). A taxa média de juros ao consumidor praticada no mercado ficou em 5,44% em dezembro. O número é o menor da série histórica da associação, que iniciou esse tipo de pesquisa em 1995.
Isso é o mesmo que dizer que, ao ano, os juros cobrados pelo mercado ficaram em 88,8%. A conta da Anefac considera as taxas praticadas no comércio, no cheque especial, no cartão de crédito, em empréstimos pessoais e de CDC (Crédito Direto ao Consumidor) para financiamento de automóveis.
Se a média do mercado é um número bastante positivo, que confirma as ações do governo para diminuir a taxa básica de juros Selic (hoje em 7,25% ao ano), a realidade ainda é de taxas altas para o consumidor. A Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) mostrou que bancos e financeiras cobram quase 500% de CET (Custo Efetivo Total) anual em empréstimos pessoais. Isso representa uma taxa de 16% ao mês de CET.
O que esses números mostram? Que as taxas só vão baixar de verdade se os consumidores ficarem atentos aos contratos assinados e que os bancos e financeiras só vão praticar efetivamente taxas menores se forem cobrados pelos seus clientes. É aí que entra o motivo deste artigo: como trocar uma dívida cara por uma dívida barata?
Quanto custa?
O primeiro passo é saber exatamente quanto custa o dinheiro. Em termos bastante simples, a taxa de juros é o valor que o banco cobra para conceder crédito. E como saber se a taxa é cara? A tabela abaixo, cuja fonte é a Anefac, serve como um parâmetro para verificar as principais modalidades:
Pelo que se vê na tabela, a taxa mais alta é a do cartão de crédito. Segundo a Anefac, essa é a menor taxa cobrada no rotativo do cartão desde o começo da pesquisa, em 1995. E apesar disso, essa modalidade continua sendo a mais cara desde então – e a mais perigosa caso seja usada sem planejamento.
A taxa alta é inversamente proporcional à facilidade de obtenção do crédito – para usá-lo, basta passar o cartão e digitar a senha. Os 192,94% da taxa anual significam que, se a dívida do rotativo rolar por um ano, ela vai praticamente triplicar.
Na mesma comparação, o crédito de financiamento de veículos é a linha de crédito mais barata. Isso ocorre principalmente porque, em caso de inadimplência, o banco tem como retomar o veículo para minimizar seu prejuízo (ele tem garantia). Em seguida, aparece o empréstimo pessoal oferecido por bancos, que conta como “garantia” de pagamento das parcelas o débito automático da conta corrente do cliente (o que também justifica taxas de juros menores).
E mesmo que a taxa apurada pela Anefac para os empréstimos pessoais pareça baixa, um levantamento da Proteste, feito em janeiro, mostrou que a taxa real varia de cliente para cliente. A associação de defesa do consumidor simulou um empréstimo em bancos e financeiras em três situações diferentes:
- R$ 2.000 em 12 vezes;
- R$ 6.000 em 12 vezes;
- R$ 6.000 em 24 vezes.
O resultado? Em 12 meses, a taxa mínima de empréstimo pessoal é a vista no empréstimo de R$ 6.000 em 24 vezes feita no Itaú: 49,12% ao ano, ou 3,38% ao mês. Repare que o número está acima do visto na pesquisa da Anefac (com dados de dezembro, há que se ressaltar, frente à pesquisa da Proteste feita em janeiro), isso porque ela mede as taxas médias e a Proteste, o custo efetivo total de um empréstimo (o que ainda inclui encargos, seguros e outras tarifas).
Como trocar a dívida?
Negociar é o segundo passo para trocar uma dívida cara por uma barata. Se a dívida é no cartão, olhe bem a fatura em busca do CET. Lá é possível verificar a taxa de juros cobrada. Se for o caso de uso do cheque especial, vale olhar o extrato detalhado da conta corrente para achar a taxa de juros cobrada por usar o limite.
Esse texto do Dinheirama traz lições interessantes sobre como tratar o cartão e o cheque especial (clique para ler). Tendo renda comprovada, é possível fazer um empréstimo consignado e usar o dinheiro para quitar toda a dívida do cheque especial ou do cartão.
Em outras palavras, é mais vantajoso pedir um empréstimo pessoal para pagar uma dívida do que entrar no cheque especial. Em números, troca-se uma taxa de juros de 7,82% ao mês por uma de 2,93% ao mês. No consignado, as taxas podem ser ainda menores do que as do empréstimo pessoal. Verifique na empresa onde trabalha se há essa opção de crédito com desconto em folha de pagamento.
O mesmo ocorre com o cartão de crédito: no lugar de pagar somente o mínimo do cartão (o que rola a dívida no rotativo, que tem a taxa mais cara do mercado, de 9,37%), é preferível fazer um crediário e pagar a conta mensalmente, com taxa de 4,06% ao mês.
Quem compra por impulso está mais sujeito a esse tipo de problema com juros altos – e é justamente o consumidor que mais precisa de controle para conseguir trocar as dívidas caras por baratas. Números de janeiro da Fecomercio-SP (Federação do Comércio do Estado de São Paulo) mostram que não só o número de paulistanos endividados aumentou neste início de ano como eles também continuam se endividando com as modalidades mais caras de crédito.
O total de famílias endividadas passou de 1,65 milhão em dezembro para 1,75 milhão. Um ano atrás, esse número era de 1,52 milhão. Segundo a Fecomercio-SP, esse movimento de mais dívidas no começo do ano é comum, graças tanto às compras do Natal quanto ao período de pagamento de contas como IPVA, IPTU e material escolar.
O estudo, que leva em conta dados da PEIC (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), mostra que o cartão de crédito é o motivo das dívidas para 68,2% das famílias, seguido por carnês (17,2%), financiamento de carro (12,3%), crédito pessoal (8,6%), cheque especial (6,8%), financiamento de casa (5,6%) e outros (6,8%).
Em outras palavras, 7 em cada 10 pessoas está com dívidas nas duas modalidades mais caras de crédito existentes no mercado: cartão e cheque especial.
A Fecomercio-SP atribui esses números, principalmente, ao consumo das famílias com renda de até dez salários mínimos. As parcelas de renda mais baixa dependem do crédito para manter o padrão de consumo – ou seja, usam o cartão e o limite da conta como complementos do salário.
Ao eliminar a dívida do especial ou do cartão, suspenda o uso. Peça para o gerente do banco acabar com o limite da conta e deixe o cartão de lado da renegociação em diante. Para sair do buraco, é preciso parar de cavar. Para sair de uma dívida, é preciso parar de aumentá-la.
Espero que o artigo possa ajudá-lo. Até a próxima.
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