As siderúrgicas brasileiras devem entrar em posição desfavorável nas discussões com montadoras sobre preços de aços planos para o próximo ano, diante do atual cenário marcado por volume crescente de importações da liga e perspectiva de produção de veículos cortada para baixo pelas fabricantes neste mês.
“Vai ser uma briga muito boa, vai ser difícil para as usinas manterem o preço”, afirmou o presidente do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), Carlos Loureiro, nesta quinta-feira ao comentar sobre mercado de aços planos brasileiro.
A entidade divulgou mais cedo que as vendas de aços planos pelos distribuidores caíram 5,8% em setembro ante agosto, ficando estáveis sobre um ano antes, a 323,3 mil toneladas.
A divulgação ocorreu depois que o Aço Brasil, representante das siderúrgicas, informou na terça-feira queda de 9,3% na produção de aço em setembro e vendas internas caindo 6% na comparação com o mesmo mês de 2022.
“Por enquanto, ninguém está fechando nada. Está tudo no ar… As condições para as usinas discutirem preços são muito mais no sentido de se ter descontos”, afirmou Loureiro.
E depois de um setembro que viu as importações de aços planos no Brasil subirem 185% frente a um ano antes, a perspectiva para outubro não é de recuo na entrada de material importado, disse o executivo.
“Provavelmente vamos ter em outubro aumento de importação, porque todo aquele material que está no porto pode ser internalizado” diante de receios de imposição pelo governo federal de tarifa de importação.
A indústria siderúrgica nacional tem defendido o estabelecimento de Imposto de Importação de 25% sobre as importações de aço, diante do avanço das importações brasileiras do material, que tem como principal fornecedor a China.
“Outubro, novembro e dezembro já estão comprados”, acrescentou Loureiro, referindo-se à tendência de fortes importações pelo país e citando que as siderúrgicas chinesas estão exportando a preços abaixo do custo fixo com ajuda de subsídio estatal.
Em setembro, o volume de aço plano no porto de São Francisco do Sul (SC), principal entrada de aço importado no Brasil, aguardando internalização somava cerca de 300 mil toneladas, segundo estimativas do Inda. Loureiro não mencionou o volume atual armazenado no terminal, mas afirmou que apesar de ter “diminuído um pouco, continua alto”.
Com a tendência de queda nos preços, os distribuidores de aços planos mantêm a estratégia de evitar estoques elevados do material para evitar prejuízos. Em setembro, os estoques nas empresas associadas ao Inda somaram 843,4 mil toneladas, praticamente estáveis ante agosto e equivalentes a 2,6 meses de vendas, dentro da média histórica do setor.
Loureiro afirmou que o aço nacional laminado a quente está 15% a 16% mais caro que o importado, diferença chamada pelo setor de “prêmio”.
O peso sobre os preços no mercado interno deve aumentar em novembro, disse o presidente do Inda, uma vez que a Usiminas pode retomar a produção do alto-forno 3 de Ipatinga (MG), parado desde abril para reforma geral.
A Usiminas tinha previsto anteriormente um religamento em agosto, mas o processo foi adiado por diversas vezes, com o mais recente acontecimento em torno do equipamento envolvendo a morte neste mês de um operário que trabalhava na obra de reforma.
“A curto prazo, é mais provável que os preços no Brasil caiam, se nada for feito” para conter as importações, disse o presidente do Inda. “Principalmente quando tiver a volta da Usiminas ao mercado”, acrescentou, referindo-se ao alto-forno 3.
A expectativa do Inda para outubro é de crescimento de 5% nas vendas ante setembro, para 339,5 mil toneladas.