Subiu para 57 o número de mortos pelas fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul desde o início desta semana e as equipes de resgate ainda buscam por 67 pessoas desaparecidas além de atuarem no regaste de milhares de pessoas, algumas em regiões isoladas no que as autoridades têm chamado de pior desastre climático da história gaúcha.
De acordo com dados da Defesa Civil estadual divulgados neste sábado, 300 municípios foram afetados pela tragédia — quase dois terços das 497 cidades do Estado. O desastre provocou cheias em rios, cortou o fornecimento de energia elétrica e os serviços de telefonia em vários pontos.
Algumas cidades estão completamente debaixo d’água e transformaram-se em verdadeiros rios, com diversas estradas e pontes destruídas.
O temporal também provocou deslizamentos de terra e o rompimento de parte da estrutura da barragem da usina de geração de energia 14 de Julho, na bacia do Rio Taquari-Antas, em Cotiporã, na Serra Gaúcha.
As autoridades também alertaram para o risco de rompimento de uma barragem da Represa de São Miguel, na cidade de Bento Gonçalves, e determinaram as saídas de pessoas que moram em áreas que podem ser afetadas.
Porto Alegre
Na capital Porto Alegre, a Defesa Civil alertou a população para a condição do Rio Guaíba, que recebeu expressivos volumes em razão das fortes chuvas e ultrapassou sua cota de inundação. Todos os acessos ao centro histórico da cidade foram bloqueados devido a alagamentos.
O governo gaúcho decretou estado de calamidade pública e a concessionária Fraport, que administra o aeroporto internacional de Porto Alegre, anunciou na noite de sexta a suspensão das operações de pouso e decolagem no local “devido ao elevado volume de chuvas que atingem o Rio Grande do Sul nos últimos dias, e para garantir a segurança de funcionários e passageiros”.
O desastre afetou mais de 420 mil pessoas e deixou mais de 32 mil desalojadas, além de 74 pessoas feridas. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) há previsão de mais chuvas no norte do Estado e as autoridades têm feito apelos para que as pessoas que moram em áreas de risco deixem suas casas e procurem abrigo em locais seguros.
“É muito dramático o que nós estamos vivendo, então é muito, muito importante que as pessoas atendam os nossos alertas”, disse o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), em transmissão ao vivo nas redes sociais na manhã deste sábado.
Leite afirmou ainda que o Estado precisará de muita ajuda no processo de reconstrução pós-desastre, mas reiterou que os esforços agora estão concentrados em resgatar pessoas. Leite também voltou a dizer que o número de mortos deverá aumentar significativamente.
“Vamos precisar de um apoio monumental, descomunal na reconstrução”, afirmou. “Neste momento não dá nem para chorar, porque os esforços são para fazer o resgate.”
Exemplo de mudanças climáticas
Cientistas disseram à Reuters que o Estado virou o exemplo do que as mudanças climáticas podem fazer com eventos já considerados extremos, mas que vêm atingindo proporções cada vez piores em um mundo que não consegue conter o avanço da temperatura global.
Em setembro do ano passado, o Rio Grande do Sul também ficou debaixo d’água, devido à passagem de um ciclone extratropical, em uma inundação que já era considerada histórica, com mais de 50 mortes registradas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viajou na quinta-feira para visitar locais atingidos e se reunir com Leite para uma reunião emergencial a fim de discutir os esforços para resgates e mitigação de danos causados pelas chuvas.
Diante do isolamento de várias localidades gaúchas, o governo federal decidiu adiar em todo país o Concurso Público Nacional Unificado, que estava marcado para domingo.
Não foi definida ainda uma nova data para a prova, e o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Paulo Pimenta, disse em sua conta no X que um novo dia para a realização do chamado “Enem dos concursos” será definido após estudos do Ministério da Gestão.