A decisão unânime do Banco Central na quarta-feira (19), ao deixar a taxa Selic em 10,5% ao ano, pode ter confundido o PT e o governo, enquanto esperava um novo embate entre Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo.
Isso porque, na reunião anterior de maio, o lado “Lula” do Copom (Comitê de Política Monetária) liderado pelo diretor Gabriel Galípolo – indicado pelo PT – obteve 4 votos por um corte de 0,5 ponto percentual no juro, enquanto a ala do presidente do BC, Roberto Campos Neto – indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro – conseguiu 5 votos por uma redução de 0,25 p.p..
O resultado foi um comitê dividido em duas alas, o que é incomum, porém com a decisão final sendo a de Campos Neto. Isso intensificou as críticas às ações dele nas redes sociais, no Congresso e por Lula.
Galípolo é visto como o favorito para assumir a presidência do BC em 2025. Em maio, o atual diretor de política monetária disse que votou por um corte maior por observar um “risco reputacional” de abandonar o ritmo de 0,5 p.p. que já tinha sido delineado pelo BC em suas reuniões anteriores.
De fato, a mudança da expectativa por uma redução menor só veio dias antes com as declarações de Campos Neto durante eventos e entrevistas.
Pressão sobre Campos Neto
O movimento “Fora Campos Neto” cresceu e se tornou “Cale-se Campos Neto”.
Na quarta-feira, um pouco antes da decisão do BC sobre a Selic, a bancada do PT na Câmara dos Deputados entrou com uma ação popular na Justiça Federal em Brasília para que Campos Neto não promova manifestações de cunho político-partidário ou deixe de se pronunciar sobre eventual candidatura enquanto estiver à frente da autoridade monetária.
“(…) Pugna-se pela concessão de medida liminar para determinar que o requerido se abstenha de fazer pronunciamentos de natureza político-partidárias, ou ainda que deixe de pronunciar qualquer apoio à candidatura ou pretensão de ocupação de cargo político, enquanto perdurar o exercício do cargo”, disseram os autores, na ação.
A ação dos parlamentares do PT é liderada pela presidente do partido, a também deputada Gleisi Hoffmann.
Tom duro do Copom vai convencer?
A ideia de um Banco Central mais duro com a inflação neste ano e no próximo, após a decisão unânime do Copom (Comitê de Política Monetária) de por um fim neste ciclo de cortes da Selic, irá convencer o mercado?
Parte dos economistas e analistas chegaram a avaliar que a notícia desta quarta-feira (19) de manter a Selic a 10,5% ao ano resgatou a confiança do mercado sobre a autoridade monetária, mas alguns ainda não se convencem desta sobriedade em 2025, quando ela será comandada possivelmente por Galípolo.
“Em nossa visão, esta decisão e comunicado de livro-texto, apoiadas de forma unânime por membros do Copom, deverão ajudar a restaurar a confiança no compromisso do comitê com a meta de inflação, que, certo ou errado, tinha aparentemente sido prejudicada pelo dissenso anterior”, disse Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.
O banco ainda espera que a taxa Selic termine este ano e o próximo no atual nível de 10,50%.
Esta visão, contudo, não é compartilhada pelo Bank of America.
Galípolo no Copom
“Embora haja um processo de desinflação em andamento, foi notado que as medidas subjacentes continuam acima da meta. Em um tom mais agressivo, não houve orientação futura, mas o conselho apresentou um cenário alternativo em que a estabilidade nas taxas seria capaz de trazer a inflação para mais perto da meta em 2025 (3,1%), desafiando os aumentos de taxas precificados pela curva de juros local”, opinam David Beker e Natacha Perez.
Segundo eles, a pausa no ciclo de flexibilização irá durar até o fim do ano, com a flexibilização retomada no ano que vem sob uma nova diretoria e nova postura do Federal Reserve.
“Esperamos que as taxas atinjam 9,0% até o fim de 2025”, completam.
Ou seja, é possível que, desde já, tanto o BC, quanto o PT, já estejam fazendo política.