Guilherme comenta: “Navarro, tenho notado que muitas pessoas vêm migrando da poupança para a Bolsa, apenas com base no que algum conhecido falou. Conheço gente que compra muito em ações do Bradesco sem sequer olhar a cotação do dia. Simplesmente alguém falou e acha que ela sobe até X no final do ano. Confesso que também estou começando com pensamento de longo prazo, porém, estou buscando adquirir o maior conhecimento possível para estar preparado para qualquer operação. Tenho acompanhado o pessoal do fórum do Infomoney comentar que nos últimos anos a bolsa tem sido uma maravilha para aqueles “leigos” que compram a ação, sentam em cima e esquecem lá. Enfim, cultura de poupança na bolsa. O que você pensa sobre isso? Arriscado é, pois se trata da Bolsa, mas penso que essa cultura de ‘poupança com ações’ é um modismo perigoso. O que você acha? Conheço gente que está investindo muito sem sequer saber o que é stop. Obrigado”.
Guilherme, você levantou uma questão importante e que merece muita atenção. Será que existe um jeito certo de agir quando o investimento está em renda variável? Será que o mito não é maior que o verdadeiro risco? Eu poderia levantar muitos outros questionamentos, comuns hoje em dia, e complicar ainda mais a discussão. Deixo esse papel para você, para todos os amigos leitores que nos prestigiam diariamente. Prefiro facilitar a discussão, dar asas à polêmica e levar o tema adiante através dos comentários e do fórum Sociedade Dinheirama. Que tal?
Cultura de poupança
Ótima idéia, a cultura de poupança vai além da idéia de investir e esquecer do dinheiro no curto/médio prazo. O poupador deve aprender a pensar em seu futuro e o futuro de seu dinheiro. As questões fundamentais que devem ser levantadas são: o que eu posso fazer para aprender e entender as alternativas de investimento disponíveis atualmente? Há necessidade de uma reciclagem neste sentido? Que nível de risco devo aceitar para aplicações de longo prazo? Investir em ações, pensando na sua venda só daqui a muitos anos, é uma estratégia eficiente? Que alternativas existem para que esse ideal se concretize? Investir em ações, então, é coisa de especialista? Algumas respostas você encontra aqui, outras na segunda parte do artigo que ainda virá…
O que eu posso fazer para aprender e entender as alternativas de investimento disponíveis atualmente?
Ler, manter-se informado e em contato com profissionais e amigos que atuam ativamente sobre seus investimentos e mercado financeiro. Ponto. Hoje em dia, diante de tamanha quantidade de informação, não é difícil obter bons materiais sobre os principais produtos financeiros e alternativas de aplicação. Simplesmente não é. Não saber onde pode encontrar a resposta não é uma razão forte o suficiente para deixar seu dinheiro “do jeito que está”. Pelo contrário, o desafio deve ser a motivação principal para levar seu patrimônio ao próximo estágio.
Excelentes livros, sites, podcasts, reportagens, revistas e jornais estão ao seu alcance neste momento. Especialistas estão acessíveis através de artigos, e-mail e fóruns de discussão. O interesse é seu, a responsabilidade de agir também. A nós, amigos de interesse comum, cabe a criação de um ambiente saudável para a troca de experiências e aprendizado. Aproveite seu tempo de forma mais inteligente, pense na poupança como formação de futuro, não apenas como um produto bancário. Free your mind!
Há necessidade de uma reciclagem neste sentido?
Sem dúvida. Não basta lançar mão das aplicações e esperar que a mágica se concretize. Isso não existe. Mágica no mundo financeiro é só mágica. Qualquer aplicação, seja ela de baixo, médio ou alto risco, deve ter constante acompanhamento. Tudo bem, constante é uma palavra subjetiva quando o assunto é dinheiro. Concordo. A frequência de avaliação pode ser flexível? Sim, pode, mas deve ser definida e respeitada por você.
Longo prazo não significa conferir o extrato daqui 10 anos, mas sim certificar-se de que suas escolhas o levarão até lá da forma desejada, dentro de suas expectativas. Experimente avaliar seus investimentos a cada três meses e mantenha sob controle a evolução de seu patrimônio. É fácil, rápido e facilita muito a tomada de decisão do dia-a-dia.
Que nível de risco devo aceitar para aplicações de longo prazo?
Todos os níveis, inclusive aquele que você jamais imaginou suportar: o sobe e desce da Bolsa de Valores. Poupança para o futuro, longo prazo, pressupõe inteligência financeira capaz de enxergar que, apesar da volatilidade, o mercado acionário reflete o crescimento do país e é um espelho, senão um motor, para seu amadurecimento econômico. Sim, porque as crises enfrentadas pelo país e pelo mercado de ações são passageiras (têm que ser!) e as empresas que negociam ações usam a captação para financiar seu crescimento. Simples assim.
Aliás, você sabia que, nos últimos 20 anos, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, fechou em alta 14 vezes? Ah, sabia que o índice cresceu a uma taxa média de 205% desde 1988? Que tal? “Mas Navarro, não vai continuar assim”. Reclamar e ser pessimista é sempre mais fácil e cômodo. Pare com isso. Se não vai ficar em 200% pelos próximos 20 anos, que fique em 25%, 30%. Não está bom? Abra o olho, preste atenção e lembre-se de incluir ações em sua carteira de investimentos de longo prazo. JÁ!
Algumas questões ainda ficam em aberto:
- Investir em ações, pensando na sua venda só daqui a muitos anos, é uma estratégia eficiente?
- Que alternativas existem para que esse ideal se concretize?
- Investir em ações, então, é coisa de especialista?
Irei respondê-las na sequência deste artigo, a ser publicada no decorrer da semana. Enquanto isso, que tal dar a sua versão para cada uma das perguntas? Lembre-se, ao dar seu parecer, que as dicas aqui focam o longo prazo. Guilherme, não dei uma resposta exata ao seu questionamento, mas acredito que as perguntas e o jogo de idéias proposto pelo artigo já é capaz de levá-lo a pensar nas alternativas viáveis ao seu raciocínio. Estou certo? Leia também a segunda parte do artigo.
Crédito da foto para Marcio Eugenio.