O Ibovespa (IBOV) fechou em queda nesta sexta-feira, após dados do mercado de trabalho norte-americano mostrarem que a atividade nos Estados Unidos continua aquecida, adicionando incertezas sobre quando o Federal Reserve cortará os juros na maior economia do mundo, com ruídos fiscais ampliando as perdas à tarde.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,73%, a 120.767,19 pontos, retomando o viés de baixa após a trégua na véspera, quando avançou mais de 1% depois de seis quedas seguidas.
Com tal desempenho, o acumulado da semana mostrou um declínio de 1,07%.
Na máxima do dia, o Ibovespa marcou 122.898,80 pontos. Na mínima, registrou 120.679,06 pontos. O volume financeiro no pregão somou 21,66 bilhões de reais, novamente abaixo da média diária do ano, de 23,77 bilhões.
De acordo com o Departamento do Trabalho norte-americano, foram abertas 272.000 vagas de emprego fora do setor agrícola no mês passado, enquanto economistas consultados pela Reuters previam criação de 185.000 postos de trabalho, com as estimativas variando de 120.000 a 258.000.
A taxa de desemprego, porém, subiu de 3,9% em abril para 4,0% em maio, rompendo um limite simbólico abaixo do qual a taxa de desemprego havia se mantido por 27 meses consecutivos.
“Com a possibilidade de uma economia americana mais robusta do que o previsto, a expectativa de cortes imediatos nos juros pode ser adiada”, avaliou o CEO da gestora Multiplike, Volnei Eyng, avaliando que um movimento assim pode se concentrar no final do ano, após as eleições presidenciais nos EUA.
Em Wall Street, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, cedeu apenas 0,11%, com o foco voltando-se para os benefícios de uma atividade econômica saudável para as empresas.
O rendimento do Treasury de 10 anos, contudo, saltava a 4,4335% no final da tarde, de 4,281% na véspera.
Economistas do BofA Securities esperam que o Fed permaneça em modo de espera por enquanto e inicie um ciclo de cortes graduais apenas em dezembro, a depender de uma moderação nos dados de inflação. “A economia pode estar esfriando, mas não está fria”, afirmaram em relatório enviado a clientes.
Na próxima semana, as atenções estarão voltadas para a reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Fed, que terá o seu desfecho conhecido na quarta-feira, com a decisão e a coletiva de imprensa do chair Jerome Powell acompanhadas de projeções econômicas da autoridade monetária.
Também na quarta-feira, antes do anúncio do Fed, que não deve trazer mudança na taxa, mas eventuais sinais sobre os próximos passos, será conhecido o índice de preços ao consumidor dos EUA de maio, às 9h30 (horário de Brasília), que pode ajudar a calibrar as últimas apostas para a decisão do Fomc, às 15h.
Da cena brasileira, projeções para a inflação e Selic no boletim Focus do Banco Central (segunda-feira) e o IPCA de maio (terça-feira) estarão em foco, principalmente em meio tom conservador de declarações recentes de autoridades da instituição, incluindo o presidente Roberto Campos Neto.
Investidores também continuarão atentos a Brasília, uma vez que persistem preocupações com o quadro fiscal.
O ministro da Fazenda disse nesta sexta-feira que o governo poderá eventualmente fazer um contingenciamento de despesas orçamentárias para assegurar o cumprimento das regras fiscais.
Em nota a clientes, um trader citou que, o “golpe final” do dia foi uma reunião do ministro das Fazenda com alguns participantes do mercado “com alguns comentários preocupantes” sobre a situação fiscal do país.
No final da tarde, após notícias citando a reunião, Haddad se mostrou irritado e afirmou que houve uma quebra de protocolo uma vez que a condição da reunião era que as pessoas não interpretassem o que ele falasse.
“A pergunta que me foi feita por um dos integrantes… foi se havia possibilidade de contingenciamento este ano se algumas despesas obrigatórias crescessem para além do previsto, e eu falei que sim”, disse o ministro, afirmando não entender “a intenção da pessoa que vazou uma informação falsa”.
Destaques
Petrobras (PETR4) fechou negociada em baixa de 3,75% e Petrobras (PETR3) caiu 3,38%, em dia de variação modesta do petróleo no exterior, com o barril de Brent encerrando com decréscimo de 0,3%.
A estatal também informou na quinta-feira que sua diretoria aprovou a reativação da sua fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados (ANSA), no Paraná, que está hibernada desde 2020. A previsão é de que a operação da ANSA seja reiniciada no segundo semestre de 2025.
Vale (VALE3) recuou 1,31%, sofrendo com a piora generalizada na bolsa, apesar da alta dos futuros do minério de ferro na China pelo segundo dia.
O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou o dia com aumento de 0,72%. A União e os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo também apresentaram na véspera uma contraproposta no valor de 109 bilhões de reais para que seja celebrado um acordo com as mineradoras Samarco, Vale e BHP, responsáveis pelo rompimento da Barragem de Fundão, em 2015.
Itaú Unibanco (ITUB4) perdeu 1,41%, também sofrendo com o “mau humor” após os dados de emprego dos EUA, e Bradesco (BBDC4) cedeu 0,77%.
Embraer (EMBR3) avançou 4,04%, após a Mexicana de Aviación, companhia aérea estatal do México, afirmar nesta sexta-feira que pagará 750 milhões de dólares à companhia brasileira pela aquisição de 20 aviões modelo E2 anunciada no começo da semana.
Suzano (SUZB3) subiu 0,62%, uma vez que se favorece de um dólar mais forte frente ao real, o que ocorreu após os dados dos EUA.
Investidores também continuam atentos a potenciais negociações envolvendo a companhia e a International Paper. Para analistas do Itaú BBA, a Suzano teria sinergias interessantes com a International Paper que seriam suficientes para compensar o aumento de custo adicional de dívida.
Magazine Luiza (MGLU3) caiu 7,56%, após duas altas seguidas, enfraquecida pelo aumento das taxas futuras de juros, que pesam sobre o setor como um todo.
O índice de empresas de consumo da B3, que também inclui nomes de educação, aéreas, alimentos, saúde, entre outros, recuou 1,49%.
Sabesp (SBSP3) encerrou em queda de 3,97%, no segundo pregão seguido de baixa, após forte valorização nos dois pregões anteriores.
Os papéis permanecem sensíveis a movimentos relacionadas à oferta de ações que irá privatizar a companhia de saneamento básico e é aguardada para meados do ano pelo governo do Estado de São Paulo, atual controlador.