Home Economia e Política China pode imitar o Japão dos anos 90 e viver uma estagflação?

China pode imitar o Japão dos anos 90 e viver uma estagflação?

O crescimento do PIB da China abrandou acentuadamente nos últimos anos, à semelhança do que aconteceu no Japão no início da década de 1990

por Gustavo Kahil
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A economia da China está esfriando, enquanto esquenta o debate sobre o risco de o país se cair em uma armadilha parecida àquela enfrentada pelo Japão na década de noventa, e que durou 20 anos.

“Muitos investidores temem que o lento crescimento do PIB e a fraca inflação da China sugiram que o país está à beira de uma estagnação semelhante à do Japão, com obstáculos estruturais semelhantes”, avalia Helen Qiao, economista para China e Ásia do Bank of America.

A deflação do índice de preços ao consumidor em julho e o número pouco positivo em agosto desencadearam o receio de uma espiral deflacionária semelhante à do Japão.

O crescimento do PIB da China abrandou acentuadamente nos últimos anos, à semelhança do que aconteceu no Japão no início da década de 1990

Fonte: NBS, CEIC, Bank of America Global Research

“O Japão passou mais de duas décadas a lutar contra a deflação desde o final da década de 1990 e só recentemente atingiu um ”ponto de inflexão” com o aumento dos preços e dos salários”, ressalta Qiao.

Os dados baixos da inflação aumentaram os temores sobre a espiral deflacionária

Fonte: CEIC, Bank of America Global Research

O banco lista vários pontos que sustentam a crescente ideia de “japanificação” da economia chinesa, caso os formuladores de políticas do país não tomem medidas para inverter a tendência descendente de crescimento.

Crédito

Segundo o banco, talvez o sinal mais preocupante seja a fraca procura de crédito na China. As famílias acumularam poupanças desde o ano passado e ainda não sacaram o dinheiro significativamente.

“Mais famílias optaram por pagar as suas hipotecas antes do previsto este ano, devido à diferença entre as taxas hipotecárias existentes e as novas taxas hipotecárias e à fraca confiança nos retornos, bem como nas expectativas futuras”, destaca Qiao.

As famílias chinesas ainda têm uma grande reserva de poupanças excedentes para ser gasta

Fonte: BofA Global Research, Wind, CEIC

A pressão das autoridades na expansão do crédito também não conseguiu estimular a procura de investimentos por parte das empresas. Isto levou muitos investidores a traçar paralelos com a “recessão do balanço patrimonial” do Japão desde o início da década de 1990, diz o BofA.

Reformas

Após sucessivos estímulos monetários, seja por cortes em juros ou interferências no setor bancário, a China tem espaço limitado para uma maior flexibilização da política monetária.

O país precisa buscar reformas estruturais, como o incentivo a empreendedores, em vez de contar com políticas macroeconômicas para reavivar o crescimento.

“Se a China continuar a se concentrar em políticas macros em seus esforços para estabilizar o crescimento, haverá cada vez mais efeitos colaterais”, disse Liu Shijin, membro do comitê de política monetária do Banco Popular da China (PBOC).

Uma saída proposta seria o reconhecimento mais claro sobre a condição das empresas privadas, tanto ideológica quanto politicamente, aponta.

Demografia

Qiao lembra que a atual demografia é desafiadora, com a população da China diminuído no ano passado, enquanto a do Japão só começou a cair no final da década de 2000, quase 20 anos após o início das “décadas perdidas”.

O percentual de dependência dos idosos na China já atingiu 20% em 2022, ultrapassando o do Japão em 1990, 17,8%.

A taxa de fertilidade total caiu para um mínimo recorde de 1,09 em 2022, ainda mais baixa do que 1,26 no Japão hoje e bem abaixo do seu nível de 1,54 em 1990.

População total: China x Japão

Fontes: Perspectivas da População Mundial (2022), Nações Unidas, Bank of America Global Research

Setor imobiliário

O mercado imobiliário da China está quase saturado, uma vez que 96% das famílias urbanas já possuem pelo menos uma casa ou apartamento. No entanto, também existem diferenças importantes em relação ao Japão.

A China não construiu, por exemplo, enormes bolhas de ativos como as enfrentadas no Japão, quando os preços dos terrenos comerciais subiram 300% entre 1985 e 1991.

“O risco de um choque de valorização cambial semelhante ao do Japão é bastante baixo”, destaca Qiao. A simples eliminação das restrições existentes pode limitar as desvantagens no setor imobiliário, explica.

Por outro lado, cair numa estagnação de longo prazo no atual nível de rendimento das famílias da China seria um cenário ainda mais sombrio do que o vivido pelo Japão.

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